
Ciência em Consulta
Por que os homens buscam menos os serviços de saúde do que as mulheres?
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Por: Jocélio de Oliveira
Homens geralmente sofrem mais de condições severas e doenças crônicas de saúde do que mulheres. Além disso, as taxas de mortalidade entre a população masculina também são maiores.
Apesar de tudo isso, em relação aos serviços de saúde, a Fundação Oswaldo Cruz mostrou que a presença de homens nos serviços de atenção primária à saúde é menor do que a das mulheres. O estudo aponta que como o homem tenha de provar a sua virilidade, acaba deixando de fora aspectos desvirilizantes.
Para a pesquisa, a discussão só poderia ser avançada com a voz dos próprios homens para entender as questões envolvidas. Para isso separou-se um recorte educacional dos homens para compreender por que eles não utilizam serviços de saúde.
A primeira explicação que homens deram foi a associação do cuidar ao âmbito feminino. “Essa opinião reforça estudos que apontam as diferenças de papéis por gênero presentes no imaginário social, entendendo os cuidados como próprios do âmbito feminino. Isso se justificaria pela socialização que as mulheres recebem, desde cedo, para reproduzirem e consolidarem os papéis que as tornam responsáveis, quase que exclusivamente”, apontam os pesquisadores Romeu Gomes, Elaine Ferreira do Nascimento e Fábio Carvalho de Araújo.
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Por outro lado, os homens deveriam ser relacionados com invulnerabilidade, força e virilidade. Essas características seriam, assim, incompatíveis com fraqueza, medo, ansiedade e insegurança – demonstradas por quem procura um serviço de saúde. A invulnerabilidade foi um tema levantado apenas por entrevistados com curso superior, mas isso não significa que apenas eles utilizem essa ideia, e sim que apenas eles estão conscientes disso.
“Associada a isso, está a dificuldade que os homens têm de verbalizar o que sentem, pois falar de seus problemas de saúde pode significar uma possível demonstração de fraqueza, de feminilização perante os outros”, explicam os autores.
Uma outra justificativa dada pelos homens como menor escolaridade foi relacionada a questão do trabalho. Como estão sempre trabalhando, e essa atividade vêm em primeiro lugar na lista de preocupações, acabam optando por não buscar os serviços de saúde. A pesquisa aponta que instituições públicas de saúde nem sempre tem horários conciliáveis com as pessoas que se encontram inseridas no mercado de trabalho formal.
Para esses homens, seria como “perder” um dia de trabalho, devido a alta espera. Além disso, por questões econômicas, eles não podem buscar um atendimento privado. Já os homens do segundo grupo, apesar de estarem preocupados com seus trabalhos, sua busca por ascensão e sucesso de carreira atrapalhariam ou interromperiam o cuidado com a saúde.