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Juliano Moreira foi médico psiquiatra que lutou contra o racismo científico
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Por: Marina Cabral
Juliano Moreira foi um médico psiquiátrico negro que lutou contra o racismo científico no início do século XX no Brasil. Para o médico, o principal papel da psiquiatria estava na profilaxia, na promoção da higiene mental e da eugenia.
Nesta quarta (06) é comemorado seu dia em alusão ao nascimento em 1873. O Google decidiu homenagear o psiquiatra com um doodle na página inicial de busca.
Mulato de família pobre, entrou para a Faculdade de Medicina da Bahia aos 13 anos de idade e se formou aos 18. Foi o professor substituto da seção de doenças nervosas e mentais cinco anos após formado. Visitou asilos na Europa, além de participar de congressos por lá e no Japão.
O médico falava alemão fluentemente e lia e examinava as obras de Freud. Foi membro de diversas sociedades médicas e antropológicas internacionais; fundou, em colaboração com outros médicos, os periódicos Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal (1905), Arquivos Brasileiros de Medicina (1911) e Arquivos do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro (1930) e a Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal (1907).
Baiano de Salvador, ele é frequentemente designado como fundador da disciplina psiquiátrica no Brasil. Quando se mudou para o Rio de Janeiro, dirigiu o Hospício Nacional de Alienados e, embora não fosse professor, recebia internos para o ensino de psiquiatria.
Contra o racismo
A primeira década do século XX no Brasil era definida a partir da raça, ou seja, discutia-se o caráter nacional e o futuro da nação através de problemas atribuídos à miscigenação do povo brasileiro.
Dr. Juliano discordava que o povo brasileiro era degenerado devido à mestiçagem, era contra, em especial a crença da contribuição negativa dos negros na miscigenação. Essa era uma posição minoritária entre pensadores da época.
Para ele, os inimigos que deveriam ser combatidos eram o alcoolismo, a sífilis, as verminoses, as condições sanitárias e educacionais adversas. O trabalho de higienização mental dos povos, disse ele, não deveria ser afetado por “ridículos preconceitos de cores ou castas (…)”.
O artigo do Brazilian Journal of Psychiatry aponta que, em seu discurso de posse, ao ser aprovado no concurso para professor da Faculdade de Medicina da Bahia, Moreira apontou “(…) a quem se arreceie de que a pigmentação seja nuvem capaz de marear o brilho desta faculdade (…)”, disse: “Subir sem outro bordão que não seja a abnegação ao trabalho, eis o que há de mais escabroso. (…) Em dias de mais luz e hombridade o embaçamento externo deixará de vir à linha de conta. Ver-se-á, então que só o vício, a subserviência e a ignorância são que tisnam a pasta humana quando a ela se misturam (…). A incúria e o desmazelo que petrificam (…) dão àquela massa humana aquele outro negror (…)”.
Mudanças na psiquiatria
Na área da psiquiatria, Juliano Moreira era filiado à escola psicopatológica alemã ¾, que representava a modernização teórica da psiquiatria e da prática asilar. Introduziu mudanças quando assumiu o Hospício Nacional de Alienados.
Dentre as renovações realizadas no hospital psiquiátrico foram a instalação de laboratórios de anatomia patológica e de bioquímica; remodelação do corpo clínico, com entrada de psiquiatras/neurologistas e outros especialistas (de clínica médica, pediatria, oftalmologia, ginecologia e odontologia); a abolição do uso de coletes e camisas de força; a retirada de grades de ferro das janelas; a preocupação com a formação dos enfermeiros, entre outros.