
Autocuidado
Como e quando falar sobre a morte com crianças?
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Por: Mayara Almeida
Não existe idade certa para falar sobre a morte, porém, a criança pode demonstrar curiosidade, seja porque vivenciou uma perda, assistiu no desenho ou ouviu alguém usar a expressão e, daí, já é um sinal para manter a via aberta para falar sobre o assunto. Exemplos utilizando o ciclo da natureza, livros infantis, desenhos e filmes, são recursos importantes: o feijãozinho no algodão, a planta no jardim, o animal que nasce, cresce, reproduz e morre.
Talvez a criança apresente medo de estar sozinha ou de perder membros da família que ainda estão vivos; pode voltar a estágios anteriores de desenvolvimento (exigir mais atenção, falar como um bebê); apresentar insônia, perda de apetite, diminuição do desempenho escolar e até vontade de estar com a pessoa que morreu. Faz parte do viver, de quem ficou, elaborar a morte.
Recomendações aos adultos:
- Não use expressões como: “ele viajou para bem longe”, “adormeceu”, ou “virou estrelinha”. As crianças costumam compreender o que é falado de forma literal e as expressões anteriores podem alimentar o medo de morrer e ser abandonado, trazendo mais ansiedade e confusão. Ainda, por verem personagens de desenhos animados que “morrem” e “renascem”, tantas vezes os questionamentos vêm e vão, compondo o processo de elaboração das situações do real, para além do pensamento mágico, característico da primeira infância.
- Permita, se for a vontade da criança (desde que antecipe o que vai ver e ouvir no ritual, explicando que aquele momento ajuda às pessoas a cuidar da saudade, pois terão um tempo para se despedir). Mas se ela não quiser ver o corpo ou participar de qualquer ato, não force.
- Incentive a participação nas tarefas de se despedir de objetos/guardar alguns, mas evite mudanças drásticas, com objetivo de esquecer rapidamente o acontecimento. Incentive que a criança sinta-se bem, mesmo na ausência da pessoa que morreu, deixe-a brincar e envolver-se em novas atividades.
Quando e como dar a notícia?
Após o primeiro tempo de maior intensidade e confusão, procure um local apropriado para explicar o que aconteceu de forma simples e sincera. Por exemplo: “Sabe o vovô, que estava no hospital? Ele morreu, então, não estará mais conosco. Estou muito triste, por isso você poderá me ver chorando em alguns momentos”. Podemos também dizer que os médicos e os enfermeiros fizeram o seu melhor para “consertar” o corpo, mas, às vezes, o machucado é grave e os medicamentos não puderam curar. Qualquer explicação deve ser feita com poucas palavras. Mas, se ainda assim, houver muitos questionamentos, peça a ajuda de outro adulto menos envolvido com as emoções da criança para conversar, um psicólogo, por exemplo. Dela – a morte – não podemos escapar. Mas podemos esculpir um caminho de consciência menos doloroso (ou pelo menos acreditar que pode ser assim, enquanto der).